Clima de Incerteza: Desafios Emocionais na Era dos Desastres Ambientais
- Elienay Brandão
- 10 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Como lidar com a angústia crescente diante de um futuro incerto? Em 2024, os desastres climáticos deixaram marcas profundas no Brasil e no mundo, afetando não apenas o meio ambiente, mas também a saúde mental das pessoas.

Secas extremas atingiram o norte do país, ondas de calor foram registradas em diversas regiões, e enchentes devastaram o Rio Grande do Sul, afetando 95% de suas cidades entre abril e maio. Em agosto, o Cerrado viu um aumento de 221% nas áreas queimadas, segundo o Monitor do Fogo. A Amazônia enfrentou a pior seca de sua história, com os rios da bacia amazônica alcançando níveis historicamente baixos, conforme dados do Serviço Geológico do Brasil.
Essa frequência crescente de desastres climáticos alimenta o medo e a ansiedade sobre o futuro. Termos como "ecoansiedade" ou "ansiedade climática" têm ganhado destaque para descrever o estado emocional de quem se sente impotente diante de eventos extremos que impactam profundamente suas vidas e comunidades.

O impacto emocional da crise climática
Ecoansiedade é definida como a preocupação persistente e profunda com as consequências da crise climática. Essa condição pode se manifestar em crises de ansiedade desencadeadas por testemunhos diretos ou pela exposição a notícias sobre desastres ambientais. Sentimentos de tristeza, raiva, impotência e culpa são comuns.
Segundo a Associação Americana de Psicologia, de 25% a 50% das pessoas expostas a desastres climáticos correm risco de desenvolver problemas de saúde mental. Muitas vezes, os sintomas não aparecem de forma imediata. Relatos de insônia, fadiga e dificuldades respiratórias podem surgir semanas ou até meses após os eventos.
Embora todos sejam afetados, as populações mais vulneráveis sofrem os impactos mais severos. Pessoas com menos recursos econômicos moradores de bairros periféricos são as mais expostas. A falta de infraestrutura, áreas verdes e arborização torna essas regiões mais suscetíveis a enchentes, ondas de calor e deslizamentos. Dados da Defesa Civil de São Paulo mostram que bairros periféricos, majoritariamente habitados por pessoas negras, lideram os índices de enchentes e desastres relacionados.
Uma crise que é social, econômica e ambiental
A crise climática também afeta diferentes grupos de maneiras específicas. Povos indígenas, que têm uma relação intrínseca com a terra, enfrentam a destruição de seus territórios por queimadas e desmatamentos, comprometendo sua cultura, segurança alimentar e modos de vida tradicionais. Comunidades ribeirinhas sofrem com a escassez de recursos hídricos causada pelas secas extremas, afetando a pesca e o transporte fluvial, essenciais para sua subsistência. Pequenos agricultores, por sua vez, veem suas colheitas ameaçadas pelas condições climáticas adversas, como a falta de chuvas e as queimadas, gerando instabilidade econômica e medo sobre o sustento de suas famílias.
O sentimento de incerteza é um aspecto central da ecoansiedade, levando muitas pessoas a um desespero paralisante. Enfrentar algo tão grande e aparentemente incontrolável pode parecer impossível, o que reforça a necessidade de soluções coletivas e estruturais.

Como responder à ecoansiedade
Apesar de sua gravidade, é fundamental evitar a patologização excessiva das respostas emocionais à crise climática, reconhecendo que essas emoções são reações legítimas diante de uma situação alarmante. Acolher as angústias geradas pelo clima de incerteza é um passo essencial para validar o sofrimento e promover suporte emocional. No entanto, precisamos ir além de intervenções individuais ou da medicalização, direcionando o foco para uma crítica e transformação das condições que perpetuam esse sofrimento.
Promover saúde mental exige políticas ambientais eficazes, que previnam desastres e protejam os recursos naturais. A criação de espaços para apoio emocional, educação sobre sustentabilidade e a mobilização para mudanças sociais pode ser um caminho.
A situação é urgente e demanda seriedade. Enfrentar a crise climática exige não apenas ações individuais, mas a articulação de ações coletivas que confrontem a desigualdade e priorizem o bem-estar social e ambiental. A continuidade de crises sucessivas nos impõe a necessidade de respostas efetivas que protejam tanto o planeta quanto as populações mais vulneráveis.